Sobre a Tradição Alexandrina do Wicca:
“What Witches Do”, Stewart Farrar
“King of the Witches : The World of Alex Sanders”, June Johns
“Fire Child: The Life & Magic of Maxine Sanders 'Witch Queen’”, Maxine Sanders
“All the King's Children”, Jimahl di Fiosa
O Mito na Bruxaria e o seu Revivalismo:
- James George Frazer (v. “The Golden Bough”, 1890)
Palavras-chave: mito religioso de impacto ritual; mito do herói; tentativa de encontrar um padrão mitológico universal.
Aqui é amplamente explorada a relação entre religião, lenda, mito e ritual de um ponto de vista global, apresentando-se como um estudo quase antropológico de análise comportamental do homem religioso e crente ao longo dos séculos. Conceitos frequentemente utilizados nos mitos neopagãos, como cultos à fertilidade, rei sacrificado e ressuscitado ou mesmo um deus solar que só encontra a sua plenitude pela sua junção com a deusa terra, encontram a sua inspiração directa neste compêndio da religião que apresenta a magia como fio condutor. Não podemos deixar escapar uma crítica: de esta ser uma investigação meramente intelectual e académica (e por vezes quase ficcionada), não tendo sido influenciada por nenhum trabalho de campo pelo seu autor.
- Charles Leland, (v. “Aradia, Gospel of Witches”, 1899)
Palavras-chave: poesia bruxesca pagã; mito da bruxaria hereditária; mito do avatar.
Fonte da poesia presente no BOS, com destaque para a Instrução da Deusa. É um livro que anuncia a existência de um culto hereditário a Diana e Lucifer, divulgando práticas de bruxaria italiana. Apesar de nunca se ter comprovado nenhuma das afirmações do autor, é curioso notar que este não foi o único a revelar tal descoberta, havendo antes dele outras investigações de semelhante índole, vide Girolanno Tartarotti no seu “Congresso oculto com os espíritos, vestígios do culto de Diana” (1749); Peter Pipernus em “De Nuce Maga Beneventana and De Effectibus Magicis”(1647) e as suas referências ao culto de Diana numa nogueira em Benevento (ou Malvento na época romana); ou ainda Bartolo Spina no seu “Questio de Strigus”(1576).
- Margaret Murray (v. “The Witch Cult in Western Europe”, 1912) e Jules Michelet (v. “As Feiticeiras”, 1862)
Palavras-chave: mito da bruxaria como antiga religião do ocidente; mito de um culto da bruxaria ininterrupto.
Dentro do mito do culto da bruxaria arcaica e transgressiva, destacamos as publicações de Jules Michelet que representaram um manifesto de bruxaria contra a Igreja Católica Romana, juntando o mito e o real, através de lendas e de referências inquisitoriais, representando assim uma fonte de inspiração ritual ao mesmo tempo que nos leva a sentir uma atmosfera mágica de contacto com o Sabate e o estilo de vida daqueles que faziam o voo. Ainda dentro da área da quase-antropologia, merecem referências as obras de Margaret Murray que relata a sobrevivência de um antigo culto pré-cristão ao Deus Cornudo, com destaque para a época medieval. Murray leva o leitor a crer a existência de uma linha ininterrupta iniciática de bruxas desde o tempo arcaico, mostrando a Bruxaria como um sistema secretamente organizado. Praticamente todas as conclusões desta antropóloga foram fortemente desmentidas, mas coloca-nos na maré do pensamento do próprio Gardner, que se revelou o legítimo herdeiro dessa corrente mágico- religiosa que Margaret Murray (e de alguma forma Leland) anuncia existir. Na verdade, acreditamos que Gardner foi o primeiro a conseguir tal feito: o de levar a bruxaria para uma tradição iniciática organizada, com iniciações e ritos de passagem pautados pela horizontalidade - não existindo antes. Segundo alguns relatos que lemos da Inquisição, a bruxa era a marginal e a iniciação (verticalmente assumida) era fornecida, no momento do seu chamar, directamente pelos Espíritos ou pelo Cornudo. Claramente que detectamos a existência de iniciações pontuais, por vezes por razões de sangue, mas nunca num formato de superestrutura organizativa.
- Samuel MacGregor Mathers (v. tradução de “A Chave de Salomão”, 1889) e Heinrich Cornelius Agrippa (v. “Três Livros da Ciência Oculta”, 1531)
Palavras-chave: mito da tradição do grimório; tradução “livre” com agenda oculta; mito de conhecimento ininterrupto da magia através do texto.
Numa fase em que vários académicos se voltaram para o estudo do misticismo e da espiritualidade esotérica, destacamos algumas traduções (do francês) que influenciaram os movimentos contemporâneos mágicos (incluindo o Wicca e a Hermetic Order of Golden Dawn que deu àquele o formato cerimonial que conhecemos). A Chave de Salomão, traduzido por Samuel MacGregor Mathers (1889), um Grimório que nos apresenta um modelo teúrgico de contacto com anjos e demónios, entre outras operações de ascensão ou queda, consagrações e conjuros, invocações e evocações.
Não podemos falar da tradição do Grimório sem referir Agrippa, que mostrou influenciar gerações constantes com a sua Filosofia Oculta (1531-1533), unindo o ritual à religião, a utilização de sigilos, uma concepção quase-cientifica dos mecanismos ocultos e mágicos, práticas oraculares e alquímicas e origem grega, hebraica e caldeia.
Como é óbvio, sendo isto uma mera análise das influências do revivalismo do mito da bruxaria no século XX, estão a ser aqui excluídos uma série de outros grimórios que irão ser explorados por este grupo. Reitero o destaque do Papyri Graecae Magicae, sem o qual não estaríamos a discutir estas temáticas ou mesmo formatos mais contemporâneos como os de Michael Bertiaux (v. Hoodoo Workbook).
- Triângulo do Sexo: Freud, Jung e Reich - influência clara de Crowley, Fortune e Regardie.
Palavras-chave: mito do sexo mágico psicológico; Eros e Thanatos; Inconsciente Colectivo e Sonhos; Sincronicidade; Arquétipos.
Com Freud descobrimos a concepção de desejo (sexual), como motivação primal do comportamento humano. Trouxe de volta referentes greco-pagãos como Édipo, Eros e Thanatos (a concepção de gémeos mitológicos, sexo e morte, desejos antagónicos do indivíduo, tentação e tensão como combustível psíquico e energético). Com Carl Gustav Jung saltamos do subconsciente para uma ideia de mente inconsciente, que é colectiva e por isso perpétua, recorrendo a simbolismo alquímico, mitológico e religioso para a exploração das matérias da psique. Jung assume o sonho não como mera manifestação de um desejo reprimido, mas como uma expressão dessa mente inconsciente. Conceitos importantes para a espiritualidade esotérica como a sincronicidade (dos acontecimentos que se relacionam não casualmente, mas por uma sincronia de complementariedade, como os omens através de uma ligação acasual) e arquétipos (matrizes de expressão através da repetição constante, impregnando o inconsciente colectivo e dando a possibilidade do contacto com imagens primordiais – ideia de que foi o Homem que criou Deus, mas não retirando a este nenhum valor místico-religioso de impulso de desenvolvimento da psique; exemplos: Grande Mãe, Deus Cornudo, Herói, etc). Já com Wilhem Reich aprendemos sobre a ligação entre a sexualidade e o carácter (ou carisma mágico, se quiserem), através de uma linguagem radical que uniu a antropologia, ética, psicanálise e até a sociologia. A ideia chave no pensamento de Reich encontra-se no conceito de Energia Orgone (energia libidinosa, espiritual e universal – sendo fonte de motivação e de criação. Ideia da líbido como combustível espiritual, que se encontra limitado pelos valores sociais e morais actuais pelo catexia e pelo superego).